Morre o maior pintor surrealista de SC


Categoria Cultura
Publicado em 30/05/2006




Texto: Iran Rosa de Moraes


Santa Catarina perdeu o seu maior pintor surrealista. Morreu, aos 47 anos, na manhã de segunda-feira, 29 de maio, Clênio Souza, pintor, professor de artes, cartunista e criador de personagens em tiras de desenho, o último deles, o "Ozóide", da Revista Visão, editada em Lages. O personagem inspirou a criação da coluna Ozóide, que os editores da revista caracterizam como um "olheiro", sempre atento aos fatos de repercussão jornalística.

Uma das últimas exposições do artista ocorreu na cidade de Itajai, no final do ano passado. E em Lages, a última grande exposição se deu no SESC, há três anos, intitulada "Da cor ao concreto". Esta mostra tinha como base uma visão artística da virada do milênio e do apocalipse e que repercutiu nos principais meios de comunicação do Estado, entre eles o jornal A Notícia, em seu caderno Anexo, através de artigo do escritor lageano Raul Arruda Filho.

Aquela histórica exposição era composta por dez painéis INSERT INTO `noticias` values (1,35 x 1,25m) e 15 esculturas e segundo escreveu Raul, amigo pessoal do artista, era fruto de uma longa reflexão sobre o fim do século e as crises que estão abalando a humanidade neste período de transição. "Segundo Clênio, o ser humano está a um passo de um grande acontecimento. Ele não sabe precisar exatamente o que, mas entende que as pessoas estão diferentes, ansiosas pelo novo e, por isso mesmo, insatisfeitas com o mundo em que vivem. E arrisca um palpite sobre isso: "Talvez estejam procurando por uma forma de encontrar Deus", escreveu Arruda Filho.

"Essa visão messiânica não é nenhuma novidade na obra de Clênio Souza. Em sua exposição anterior, "Tempo de Luz" INSERT INTO `noticias` values (1997), diversas telas celebravam o conflito entre o corpo e a alma, entre o mundo material e as riquezas do espírito. Os grandes espaços físicos e seus objetos contraditórios (rodas d'água, punhais, animais antropomorfizados etc.) tinham a grandeza de catedrais góticas. Além disso, havia a surpresa das cores ­ traduzida em um impressionante jogo de luzes e sombras, "chiaroscuro" a desafiar olhares e paixões", escreveu Arruda Filho.

Clênio dizia que: "Esculpir é aproximar cegos. Acredito que a escultura é uma arte especial, onde o tato é mais importante que a visão. Na escultura, o artista deve se deslocar para um plano secundário, deixando que o espectador exerça a tarefa principal, que é a de entender e sentir o volume, as formas, as reentrâncias, os perigos que o prazer representa. E isso só é possível quando os olhos estão vendados".

Outro artigo sobre as obras de Clênio foi escrito pelo jornalista Paulo Ramos Derengoski, também para o Anexo. Intitulado de "A Tragédia do Danúbio", Derengoski reportava-se, pois, a Clênio Souza como o pintor "maldito" do Planalto ­ comovido com a tragédia que se abate sobre a Eslávia do Sul (Iugoslávia). "A pedido de um amigo jornalista ele recriou, em traços rápidos, uma espécie de "Guernica" (de Picasso) brasileira. O que importa nesses quadros de choque, nessa pintura de combate, é revelar o espanto e a dor diante de uma das maiores bestialidades do fim do milênio que é o bombardeio, noite após noite, sobre a Iugoslávia, bem como a tragédia dos kosovares. Pois se a pintura é, sobretudo, forma e ideal, ela também é cartaz, denúncia, crítica social. Numa guerra sangrenta, onde a imprensa de todo o mundo se limita a repetir os chavões bélicos da Otan, Clênio é a voz (a tinta) que clama na solidão dos planaltos...".


Dados Biográficos - "Clênio Souza nasceu em Urubici, SC, em 1958. Sua família mudou-se para Lages no início dos anos 60. De origem humilde, começou a desenhar aos sete anos de idade ­ ao acompanhar seu pai ao trabalho, em uma madeireira, ganhou alguns pedaços de carvão. Foi o suficiente para que o mundo das cores e das formas ganhasse vida através de sua imaginação.

Pintor autodidata, encontrou no surrealismo a forma possível de mostrar as suas dúvidas. Seus quadros já foram expostos em Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre, em cerca de 100 exposições individuais e coletivas. Um de seus maiores incentivadores foi Martinho de Haro.

Em 1981 ganhou o prêmio-aquisição do Jovem Arte Sul-América (participaram artistas de SC, PR e RS). A consagração e o reconhecimento estadual do talento de Clênio Souza aconteceu quando, em 1982, ganhou o grande prêmio "Reinterpretação da Primeira Missa do Brasil", promovido pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC) e Museu de Artes de Santa Catarina (Masc). Também foi escolhido como o artista-revelação da geração de 80 pela Associação Catarinense de Artistas Plásticos (ACAP). Com a exposição "Da cor ao concreto", inaugura uma nova faceta artística, a de escultor". (Biografia escrita por Raul Arruda Filho).

Fonte: ACS Prefeitura de Lages



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